quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Tantos planos, futuros.

"Minha vida pode continuar existindo mesmo sem mim?"


Tenho estado preocupada. Prazos, compromissos, saudades. Às vezes tento organizar a vida com pontos, mas sempre coloco mais de um e acabo concluindo que meu caminho tem, na verdade, reticências. Meu caminho é feito por semáforos deitados, mas ainda assim com a lâmpada amarela sempre piscando. Onde eu me perdi? Onde está a linha tênue entre a organização dos meus dias e a bagunça do meu humor? Queria viajar para longe, esquecer o mundo por algumas horas, enquanto admiraria o horizonte que iria dividir as  janelas do meu carro. Queria som alto e vento no rosto. Queria paz de espírito e cheiro de mar. Queria um pouco mais de vida. Onde se compra? Sinto saudade de viver... sinto saudade, sou brasileira por demais e fui feita para usar essa palavra: saudade. Mas não posso dar adeus ao mundo, ao meu mundo, e ir embora viver. Não, não agora, só depois.
Quando?
Não sei.
Me identifico com o poeta, como é perversa a juventude do meu coração...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Com a alma repleta de chão.




Ela nunca gostou de ir para aquele lugar à noite. Não sabia o motivo, mas sabia que aquilo não combinava com ela. Era gente demais, barulho demais, efusividade demais e simplicidade de menos. Era scarpin e perfume francês em todos os corredores, enquanto ela caminhava com o seu all star surrado como um ser de outro mundo... e nem ligava. Mas tinha alguém que salvava àquelas noites. Sim, tinha. Há cinco anos ele estava lá. Há cinco anos! Quando ela lembrava esse tempo todo, se envergonhava por nunca ter perguntado o nome dele, mas ele nunca perguntou o meu também, então tudo bem. Ele foi um dos poucos que conseguiu tirar tantos sorrisos sinceros das noites que ela abominava. Quando identificava aquele carro preto fazia logo questão de ficar no meio da passagem, obrigando-a a parar. E ela já começava a rir dali. Impossível não demonstrar essa reação ao vê-lo me esperando. Quando ela parava e baixava o vidro, ele, na simplicidade que combinava enormemente com a dela, já colocava a mão dentro do carro e dizia seu singelo: oi, amorzinha! Sim, amorzinha, com a no final. Ela ria antes mesmo de colocar a mão sobre a dele, quantas vezes... E era tão sincero. A mão gelada das noites na serra, meio ressecadas de uma provável infância humilde. Ela nunca hesitou, sempre parou e apertou firmemente a mão dele, sorrindo e perguntando como ele estava. A resposta sempre variava entre duas frases. Algumas noites ele respondia um desiludido “vou levando, né?”. Outras noites, dizia “só em ver você já ficou tudo bem!”. E ela ria sem jeito, enquanto alguns carros apressados davam sinal de luz pedindo pra ela sair da frente. Nunca ficou uma noite sem ouvir um “Vai com Deus, minha linda”. E isso a salvava. Isso a tranquilizava. Isso a protegia. Saía sempre rindo e pensando, quantas pessoas se fecham nos seus vidros fumês e pisam fundo no acelerador, com sua Carmem Steffens, fingindo que ali não tem ninguém. Quantas? É bom parecer invisível sempre? É bom nunca ser notado? É bom ser tratado com indiferença? Por ela não, por ela ele sempre esteve à vista. Por ela teriam mais dele ali, capazes de dar um pouco mais de esperança àquela que sempre saía chateada e se questionando mil coisas sobre mil valores diferentes. Ele era um dos poucos que fazia a diferença no meio daquelas três mil pessoas. Sim, dele ela sente muita falta.

"De nada adianta fazer yoga
e não cumprimentar o seu porteiro"
Osvaldo Daibert