quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bluebird


Em meu coração existe um pássaro que quer sair, 
Mas sou mais forte que ele.
Eu falo "fica aí dentro, eu não vou deixar ninguém te ver." 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas eu taco uísque nele e respiro fumaça de cigarro.
E as putas e os barman e as caixas do mercado
Nunca sabem que ele está aqui dentro. 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas sou mais forte que ele.
Eu falo "fique aí, você quer me pôr em apuros?"
"Você quer estragar meus trabalhos?"
"Você quer estragar as vendas dos meus livros na Europa?" 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas eu sou mais esperto,
Só deixo ele sair de noite, às vezes,
Quando todos estão dormindo. 

Eu falo "sei que você está aí, então não fique triste",
Daí o ponho de volta.
Mas ele ainda canta um pouco aqui dentro...
Eu não o deixei morrer totalmente. 

E a gente dorme junto desse jeito, com nosso pacto secreto.
E é bacana o suficiente para fazer um homem chorar
Mas eu não choro.
Você chora?


Charles Bukowski

sexta-feira, 22 de junho de 2012

And so it is...

"Porque mulher que fica quieta em uma briga,
já está fazendo a mala."
Carpinejar

"Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu."

Aceite o que é fato: ela vai te deixar. Deixar assim, exatamente como você veio, sozinho. Vai partir e nem sequer vai olhar pra trás. Vai acenar para o vizinho como se fosse um dia qualquer. E você vai ficar aí. Com um abismo dentro do peito e uma tempestade querendo sair de dentro dos olhos. Mas você, teimoso como é, aposto que vai dizer que não está ligando a mínima. Que ela nunca soube dar um adeus de verdade para você e que sempre volta. Some por um tempo, mas volta. Conhece algumas pessoas, mas volta. Que não vai se martirizar tentando dar um jeito nessa relação de vocês. Tudo bem, você diz que não sente falta de companhia. Acha que está tudo bem assim e que não precisa, no momento, ter dor de cabeça com isso. Ótimo. É a sua vida e você faz dela o que quiser. Mas por favor, entenda, você precisa valorizar as pessoas que você tem, não as pessoas que estão, hoje, com você. As que estão, hoje, com você são passageiras. E, de forma distorcida, são as que você mais enaltece, esquecendo que magoa, por vezes, as pessoas que você tem o tempo todo ali, ao seu lado. Já te expliquei que existem erros inevitáveis, mas também existem erros evitáveis que você insiste em não ver. E é aí, meu amigo, que você se perde. Tente, eventualmente, abrir os olhos e ver quem está ao seu lado. Só eventualmente, nem precisa ser o tempo todo. Mas veja. E, ah, não deixe para ver tarde demais. Não deixe para ver quando ela já tiver partido... vocês.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Look what you've done.



Acordou com aquele cheiro gostoso do café, que só a mãe dela sabia adoçar no ponto certo. Levantou com a preguiça diária que parece ser uma constante universal. Espiou a varanda e conferiu que a chuva ainda não havia parado. Escolheu a roupa, tomou um banho, vestiu a meia calça vinho, o vestido preto, colocou as botas preferidas. Fechou o casaco e tomou o delicioso café com alguns pães de queijo. Trancou a porta e se entregou a mais um dia.
Prometeu a si mesma que aquele dia iria ser regado a sorrisos, que não permitiria que ninguém a deixasse para baixo. Prometeu que iria olhar para os outros e sorrir para os outros com esse sorriso que vem da alma. Disse para si mesma, repetidas vezes, que hoje a tristeza não iria chegar perto, apesar da previsão de dia constantemente chuvoso. Hoje seria um bom dia, sim, porque hoje ela entendeu que não merecia guardar para si o sorriso tão sincero que diziam que ela possuía. Resolveu acreditar nos elogios que recebia, nas palavras gratuitas que diziam a ela quando ela não esperava. Ela entendeu o valor que tinha e isso impulsionava para frente. Não tinha vocação para ser triste. Talvez por um dia, mas não mais que dois.
Quando nasceu, sopraram no ouvido dela: "Seja uma pessoa simples e boa, minha filha, e não se permita ser triste." Tomou isso como filosofia de vida. Hoje, ao acordar, ela se prometeu, iria sorrir. 
Iria sorrir.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pra ficar na minha vida.


Vem. Te espero na rodoviária, no aeroporto ou na estação. Desembarca com aquele olho pequeno que não consegue enxergar longe que eu aceno pra você me ver. Aparece com aquele all star e com aquela mochila azul que traz dentro tantas histórias de tantos lugares. Me conta como foi na estrada, se choveu, se você conseguiu dormir. Traz na pele tão branca aquele cheiro de liberdade que só você tem. Me diz que eu preciso aprender a atravessar as ruas e voltar a andar de ônibus, que não dá pra ter trauma de assalto nesse mundo. Me diz que devo começar a usar novos penteados. Implica comigo dizendo que Los Hermanos não presta e que Legião Urbana é coisa de adolescente com problemas. Diz que meu sotaque é bonitinho, mesmo eu discordando sempre. Fala que eu preciso parar com essa mania de achar tudo inseguro. 
Vem. Me conta sobre os seus amigos de Belo Horizonte, Marília, Foz do Iguaçu, São Paulo, Natal. Me deixa por dentro de todas as questões políticas da atualidade. Tira onda do Corinthians e fala que o hino do Santos deveria ser, na verdade, o hino nacional. Diz pra eu nunca usar lente, sempre óculos. Pergunta se eu faço mulherice ao volante, mesmo eu não entendendo o que você quer dizer com isso, só pra me deixar com raiva. Diz que vai tirar a barba amanhã que eu te imploro para você não fazer isso. E você não faz. Me diz que eu sou uma babona e que meu gosto é muito duvidoso. Fala que eu preciso aprender a fazer malas mais compactas e segura o meu braço, fingindo que está tocando violão para o seu sobrinho. Diz que suco de soja é a coisa mais deliciosa do mundo só pra ver a minha cara de que não é mesmo. Me ensina a cozinhar. Me deixa descobrir se você é loiro ou ruivo. Me diz que eu preciso parar de ter medo de falar com as pessoas. Me questiona. Me pede pra eu te convencer. Diz que é pra eu fazer isso ou aquilo sem me deixar dúvida alguma. Fala com firmeza o meu nome.  
Vem. Já estamos acostumados a essas viagens, chegadas e partidas, encontros e desencontros.
Vem. Já sei que não é possível fazer promessa alguma, mas não me afasto de você, nem você se afasta de mim. Talvez por alguns milhares de quilômetros, mas, paradoxalmente, nem por um centímetro. 
Estamos sempre perto... ainda não sei como, mas sei que estamos.