O texto que segue trata de uma das
muitas cartas que escrevi e não enviei, datada de janeiro de 2008 e encontrada
agora, no fundo de uma gaveta de madeira.
Retirei algumas partes por motivos pessoais,
mas resolvi colocá-la aqui porque hoje entendi o peso de algo que fica escrito.
Ler essa carta me fez relembrar exatamente do momento que eu vivi. Foi como ter um pedaço do tempo congelado, em minhas mãos.
“ ,
é
estranho te escrever algo agora. Na verdade nem sei se vou te mandar isso. Acho
que por insegurança mesmo, por ter medo que você não leia e jogue essa carta
direto no lixo. Mas enfim, vou continuar escrevendo pra desabafar.
O
que eu queria era te pedir desculpa. Sei que está meio cedo, mas queria, de
coração. Acho que fui muito covarde ao acabar a nossa história daquela forma. Enquanto
você tentava com todas as forças segurar as lágrimas nos olhos, me perguntando
por que eu estava fazendo aquilo, eu inventava palavras carinhosas, segurando e
beijando a sua mão, na tentativa de abrandar também a minha dor. Agindo dessa
forma eu só piorei ainda mais as coisas, né? Hoje eu sei.
Mas
o que você fez conosco semana passada também não foi justo. Viajar 120km e
aparecer daquela forma na casa da praia, poxa! Me levar pro outro lado da
cidade e pedir, olhando nos meus olhos, pra segurar uma última vez a minha mão,
nossa, não foi justo comigo.
Eu já sinto muito a sua falta. De verdade. Já sinto falta das tardes de sábado. Sinto falta
de jogar dominó na beira da praia. Já sinto falta até de ir pra aqueles shows
barulhentos contigo. Você sabe que metal não é meu forte, mas mesmo assim me carregava pros shows contigo.
Falar
em show, lembrei daquele último que fomos, que seu amigo quase ficou em coma
alcoólico e você ficou umas duas horas com ele no colo. Só deixou ele de lado
pra dançarmos Capim Cubano! Hahaha, esse foi um dia memorável.
Tivemos
muitos dias memoráveis, né?
Tenho
que te agradecer por isso.
Agradecer
por ter tido tanta paciência comigo nesses últimos dois anos, principalmente
por aturar com tanto bom humor os apelidos mais pitorescos que eu consegui
inventar pra você. Agradecer por ter sido tão companheiro e me entender nas
minhas ausências. Agradecer pela simplicidade com que você me olhava e agradecer
pela sinceridade de sempre.
Éramos
muito amigos, antes de qualquer coisa. E conversávamos muito (lembro que minha mãe pedia pra gente parar de falar, as vezes, porque ela não aguentava mais tanta tagarelice). Se tinha uma
nuvem no céu, criávamos uma teoria de duas horas pra aquilo. E foi incrível como
sempre conseguimos nos entender tão bem.
Mas, sabe, é estranho. Há um mês atrás você sempre tinha todo o tempo do mundo para mim. Mas
hoje, hoje tenho vergonha até de te ligar.
Peguei
um caminho diferente e nem sei se foi o certo.
Provavelmente
não. Tenho dificuldade em aceitar as minhas escolhas.
Mas
não tenho mais como voltar atrás. E vou precisar ser forte pra aprender a
conviver contigo dentro de mim, mesmo tendo optado (e ainda não sei bem o
motivo) por não te ter mais ao meu lado.
Espero
que você fique bem.
Queria te pedir pra não ter vergonha de me ligar quando
quiser, mas não é justo fazer isso...
Bom,
nunca soube terminar carta, você bem sabe disso, então quero só pedir uma
coisa: não me esquece, tá?
Enfim,
se cuida.
Ah, tou te mandando no envelope a peça mais forte do dominó. Acho que,
no fundo, você sempre foi o 6/6 em mim.
Beijos,
Mariana."