quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tempo, tempo, mano velho.

O texto que segue trata de uma das muitas cartas que escrevi e não enviei, datada de janeiro de 2008 e encontrada agora, no fundo de uma gaveta de madeira.
Retirei algumas partes por motivos pessoais, mas resolvi colocá-la aqui porque hoje entendi o peso de algo que fica escrito. Ler essa carta me fez relembrar exatamente do momento que eu vivi. Foi como ter um pedaço do tempo congelado, em minhas mãos.



“                  ,
é estranho te escrever algo agora. Na verdade nem sei se vou te mandar isso. Acho que por insegurança mesmo, por ter medo que você não leia e jogue essa carta direto no lixo. Mas enfim, vou continuar escrevendo pra desabafar.
O que eu queria era te pedir desculpa. Sei que está meio cedo, mas queria, de coração. Acho que fui muito covarde ao acabar a nossa história daquela forma. Enquanto você tentava com todas as forças segurar as lágrimas nos olhos, me perguntando por que eu estava fazendo aquilo, eu inventava palavras carinhosas, segurando e beijando a sua mão, na tentativa de abrandar também a minha dor. Agindo dessa forma eu só piorei ainda mais as coisas, né? Hoje eu sei.
Mas o que você fez conosco semana passada também não foi justo. Viajar 120km e aparecer daquela forma na casa da praia, poxa! Me levar pro outro lado da cidade e pedir, olhando nos meus olhos, pra segurar uma última vez a minha mão, nossa, não foi justo comigo.
Eu já sinto muito a sua falta. De verdade. Já sinto falta das tardes de sábado. Sinto falta de jogar dominó na beira da praia. Já sinto falta até de ir pra aqueles shows barulhentos contigo. Você sabe que metal não é meu forte, mas mesmo assim me carregava pros shows contigo.
Falar em show, lembrei daquele último que fomos, que seu amigo quase ficou em coma alcoólico e você ficou umas duas horas com ele no colo. Só deixou ele de lado pra dançarmos Capim Cubano! Hahaha, esse foi um dia memorável.
Tivemos muitos dias memoráveis, né?
Tenho que te agradecer por isso.
Agradecer por ter tido tanta paciência comigo nesses últimos dois anos, principalmente por aturar com tanto bom humor os apelidos mais pitorescos que eu consegui inventar pra você. Agradecer por ter sido tão companheiro e me entender nas minhas ausências. Agradecer pela simplicidade com que você me olhava e agradecer pela sinceridade de sempre.
Éramos muito amigos, antes de qualquer coisa. E conversávamos muito (lembro que minha mãe pedia pra gente parar de falar, as vezes, porque ela não aguentava mais tanta tagarelice). Se tinha uma nuvem no céu, criávamos uma teoria de duas horas pra aquilo. E foi incrível como sempre conseguimos nos entender tão bem.
Mas, sabe, é estranho. Há um mês atrás você sempre tinha todo o tempo do mundo para mim. Mas hoje, hoje tenho vergonha até de te ligar.
Peguei um caminho diferente e nem sei se foi o certo.
Provavelmente não. Tenho dificuldade em aceitar as minhas escolhas.
Mas não tenho mais como voltar atrás. E vou precisar ser forte pra aprender a conviver contigo dentro de mim, mesmo tendo optado (e ainda não sei bem o motivo) por não te ter mais ao meu lado.
Espero que você fique bem.
Queria te pedir pra não ter vergonha de me ligar quando quiser, mas não é justo fazer isso...
Bom, nunca soube terminar carta, você bem sabe disso, então quero só pedir uma coisa: não me esquece, tá?
Enfim, se cuida.
Ah, tou te mandando no envelope a peça mais forte do dominó. Acho que, no fundo, você sempre foi o 6/6 em mim.
Beijos,
Mariana."

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