segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Desengano


"Toda vez que olho o desengano
Nas frases do canto fosco dessa juventude
Vejo meu sorriso magro,
Meu corpo suado se encarquilhar
E quando franzo a testa,
E séria suo o rosto cor de madrugada
É quando me deprimo e curvo os ombros pra pensar
Penso nos martírios,
Todos os delírios loucos que vivenciamos
E vejo por quanto anos nos aventuramos querendo voar
Voar pra sair de perto,
De todo deserto desses abandonos,
E constatando o desengano se despedaçar.
Desfeito em pedaços,
Sigo no encalço desse sonho
Vejo meu sorriso magro,
Coração amargo se atrapalhar
Quando franzo a testa,
E séria suo o rosto cor de madrugada
Quando abro os olhos, olhos claros para o mar."

Tito Lívio e Lula Cortês falando por mim...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Infinito circular.

"Tenho todos os galhos da minha árvore
voltados para o Sol."

Apanhador de sonhos... Sempre achei interessante um objeto ter esse nome. 
Conta a lenda que no centro do objeto, a teia, feita de madeira, representa o ciclo da vida. Quando pendurado, consegue se mover livremente com o ar que passa à noite, apanhando os sonhos que estão soltos em um plano invisível. Os sonhos bons alcançam as penas e deslizam até alcançar quem está dormindo por perto.  Os ruins ficam presos na teia até o nascer do Sol, desaparecendo quando a luz aponta um novo dia.
Contei essa história porque, apesar de não ter um apanhador de sonhos perto de mim, tenho sonhado bastante ultimamente, a lenda que me perdoe. Talvez por eu carregar comigo apanhadores de sonhos que, por sua vez, não são objetos, mas estão sempre prontos para espantar meus pesadelos e para me reanimar quando começo a achar meus próprios sonhos enfadonhos. Sonhos, estes, de outra ordem. 
Poucos sabem, mas esses próximos dois dias serão de grande importância na minha vida. Nos últimos meses fechei janelas e portas que se abriram repentinamente, porque algo me dizia que elas não tinham uma vista muito boa do horizonte que eu queria ver. Me angustiei, me entristeci, desanimei. Mas sempre tinha alguém ali, de prontidão, disposto a me lembrar os sonhos que eu tinha. Devo a estas pessoas grande parte das minhas conquistas.
Hoje o dia está bonito. Acordei com o Sol me convidando para levantar e aqui estou, torcendo para que essa porta que está aberta possa ser como uma brisa calma que movimentará meus dias futuros. Tenho consciência de que, se cheguei até aqui, foi porque perto de mim existiram importantes pessoas, capazes de pegar no ar os meus sonhos e os meus desejos e me ajudar a escolher o que era melhor para mim. Independente do que aconteça nesses próximos dois dias, sei que vocês cinco estarão ao meu lado, e talvez essa seja a minha maior teia de felicidade, tê-los sempre por perto. Apanhar sonhos não deve ser uma tarefa fácil, mas vocês fazem isso com muita naturalidade.
Tenho sorte na vida. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Último pôr do Sol

"Me acostumei com você sempre reclamando da vida
Me ferindo, me curando a ferida,
Mas nada disso importa, vou abrir a porta pra você entrar"


Essa música me faz lembrar um grande amigo. Sempre que a escuto, minha memória me leva para um dia de sábado, em uma cidade próxima. Cantei essa música com ele, dentro de um ônibus, em direção ao centro. Foi o último dia que o vi. Eu não sabia que seria assim, claro, mas acho que ele sabia. Sim, ele sabia...
Logo cedo, depois de carregarmos minha mala por centenas de metros com ele brigando comigo, e com todo mundo, como sempre fez, nos cansamos. Ele viu que tinha um carrinho de feira dando bobeira na porta do Extra e teve a genial ideia de pegá-lo. Colocamos a minha mala dentro do carrinho e saímos andando até o ponto de ônibus mais próximo. O carrinho, obviamente, fazia um barulho infernal na calçada, chamando a atenção de todos.  Briguei com ele porque não deveríamos pegar algo do supermercado sem pedir e ele brigou comigo porque minha filosofia de que ele falava errado caía por terra.

- Você diz que eu falo errado o ‘ê’ e não ‘é’ em todas as palavras do mundo por causa do meu sotaque, porque falou “Êxtra” e não “Éxtra”? Me diga, quem está errado agora!?
- Estamos furtando um carrinho e você tá se preocupando com fonética de nome de supermercado?
- Mariana, relaxa, você não vai ser presa! O ponto do ônibus fica aqui na lateral do supermercado, depois eles passam recolhendo esses  carrinhos novamente. Se tivesse feito uma mala menor não estaríamos fazendo isso.
- Nós, mulheres, gostamos de ter muitas opções para ficarmos em dúvida na hora de escolher o que usar, por isso nossa mala é sempre grande.
- Pois da próxima vez traga uma mala com rodinhas.

Mas não teve próxima vez. No final da tarde voltei para a minha cidade. Nunca mais voltamos a nos ver.
Se eu me entristeço por isso? Bom, nossa história nasceu dessa forma e nem por isso fomos apenas mais um na vida do outro. É aquela saudade acostumada que todos nós temos de um amigo que está longe. Rodoviárias e aeroportos guardam milhares de histórias semelhantes a esta minha, não tenho exclusividade sobre ela.
O que sei é que, apesar disso, me restaram muitos recortes de lembranças boas que permeiam meus dias. Como aconteceu agora. Ouvir a música de Rita Lee me fez ficar com esse sorrisinho tímido no rosto. 
Minha mala está cheia de lembranças maravilhosas como esta do carrinho do supermercado. Foi essencialmente isso que ele me deixou: sorrisinhos de quinta feira. E de sextas. E de sábados. E de domingos.




segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Meu grão de amor.

"Me deixe sim,mas só se for
Pra ir ali e pra voltar."



Prometi que voltaria e aqui estou.
Aqui estou para dar a vocês o meu amor mais puro e verdadeiro.
Aqui estou porque entendi que só vocês são capazes de purificar a minha alma.
      Voltei.
            Voltei porque morri de saudade do abraço apressado.
                  Voltei porque morri de saudade do sorriso escancarado.
                        Voltei porque morri de saudade da alegria infantil nos meus dias.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A vida é cigana.

Não pare.
Não pense demais.


Seu maquinista, houve um engano...
Entrei na estação pra pegar o trem do Manuel ou o do Milton.
Esse trem que peguei não tem café com pão!
E de azul não tem nada.
Com toda essa fumaça, não sei se estou no caminho certo. Estou?

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Tantos planos, futuros.

"Minha vida pode continuar existindo mesmo sem mim?"


Tenho estado preocupada. Prazos, compromissos, saudades. Às vezes tento organizar a vida com pontos, mas sempre coloco mais de um e acabo concluindo que meu caminho tem, na verdade, reticências. Meu caminho é feito por semáforos deitados, mas ainda assim com a lâmpada amarela sempre piscando. Onde eu me perdi? Onde está a linha tênue entre a organização dos meus dias e a bagunça do meu humor? Queria viajar para longe, esquecer o mundo por algumas horas, enquanto admiraria o horizonte que iria dividir as  janelas do meu carro. Queria som alto e vento no rosto. Queria paz de espírito e cheiro de mar. Queria um pouco mais de vida. Onde se compra? Sinto saudade de viver... sinto saudade, sou brasileira por demais e fui feita para usar essa palavra: saudade. Mas não posso dar adeus ao mundo, ao meu mundo, e ir embora viver. Não, não agora, só depois.
Quando?
Não sei.
Me identifico com o poeta, como é perversa a juventude do meu coração...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Com a alma repleta de chão.




Ela nunca gostou de ir para aquele lugar à noite. Não sabia o motivo, mas sabia que aquilo não combinava com ela. Era gente demais, barulho demais, efusividade demais e simplicidade de menos. Era scarpin e perfume francês em todos os corredores, enquanto ela caminhava com o seu all star surrado como um ser de outro mundo... e nem ligava. Mas tinha alguém que salvava àquelas noites. Sim, tinha. Há cinco anos ele estava lá. Há cinco anos! Quando ela lembrava esse tempo todo, se envergonhava por nunca ter perguntado o nome dele, mas ele nunca perguntou o meu também, então tudo bem. Ele foi um dos poucos que conseguiu tirar tantos sorrisos sinceros das noites que ela abominava. Quando identificava aquele carro preto fazia logo questão de ficar no meio da passagem, obrigando-a a parar. E ela já começava a rir dali. Impossível não demonstrar essa reação ao vê-lo me esperando. Quando ela parava e baixava o vidro, ele, na simplicidade que combinava enormemente com a dela, já colocava a mão dentro do carro e dizia seu singelo: oi, amorzinha! Sim, amorzinha, com a no final. Ela ria antes mesmo de colocar a mão sobre a dele, quantas vezes... E era tão sincero. A mão gelada das noites na serra, meio ressecadas de uma provável infância humilde. Ela nunca hesitou, sempre parou e apertou firmemente a mão dele, sorrindo e perguntando como ele estava. A resposta sempre variava entre duas frases. Algumas noites ele respondia um desiludido “vou levando, né?”. Outras noites, dizia “só em ver você já ficou tudo bem!”. E ela ria sem jeito, enquanto alguns carros apressados davam sinal de luz pedindo pra ela sair da frente. Nunca ficou uma noite sem ouvir um “Vai com Deus, minha linda”. E isso a salvava. Isso a tranquilizava. Isso a protegia. Saía sempre rindo e pensando, quantas pessoas se fecham nos seus vidros fumês e pisam fundo no acelerador, com sua Carmem Steffens, fingindo que ali não tem ninguém. Quantas? É bom parecer invisível sempre? É bom nunca ser notado? É bom ser tratado com indiferença? Por ela não, por ela ele sempre esteve à vista. Por ela teriam mais dele ali, capazes de dar um pouco mais de esperança àquela que sempre saía chateada e se questionando mil coisas sobre mil valores diferentes. Ele era um dos poucos que fazia a diferença no meio daquelas três mil pessoas. Sim, dele ela sente muita falta.

"De nada adianta fazer yoga
e não cumprimentar o seu porteiro"
Osvaldo Daibert

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Bilhete



"-Estamos tão longe.
-De onde?
-De nós mesmos."
Gabriel Garcia Marquez


Hoje não é um bom dia para lembranças, meu bem.
Eu preciso começar do zero e, portanto, quero te dizer que vamos parar por aqui... preciso te dizer adeus.
Mas, antes disso, quero dizer adeus ao pensamento matinal de que hoje vou receber uma ligação sua, quero dizer adeus às dúvidas que tinha das suas companhias. Quero dizer adeus às fotos, mensagens, textos e emails. Adeus àquela sensação frequente de perda e de troca, adeus à distância que nunca acabou e que sempre vai existir. Adeus  ao sentimento de culpa por não ter feito um pouco mais do que eu sempre fazia e adeus ao vai e vem sentimental de nós dois. Quero dizer adeus ao meu coração apertado de todas as noites e adeus ao nosso desequilíbrio.
Por fim, dou adeus à nossa amizade, meu maior e mais querido amigo, mas sei que esse desdém amargo não combina conosco e que a falta da sua voz como minha melhor trilha sonora já me doeu o suficiente.
Sigamos nossas vidas em linhas paralelas, em linhas paralelas.

Adeus.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Free.

- É que dói ter visto tanta coisa numa pessoa que não viu nada em mim.
Ah, vá! Ele só pode ser muito besta. E convenhamos, você já suportou dores maiores, não vai ser hoje que você vai morrer. 
- Adoro sua delicadeza para tratar minha dor.
- Proonto, falo isso pra você porque não precisamos de maquiagem nem falsidade. Sei que posso ser sincera contigo, assim como você joga verdades na minha cara sempre. Lembra de quando você terminou aquele seu namoro de quase dois anos? Você morreu? Não. Lembra de quando o amooor da sua vida veio te contar que "acidentalmente" ficou com outra? Você morreu? Não. Lembra quando seu ex começou a ficar com a menina que você mais detestava? Você morreu? Tá aí, ó, vivinha da Silva. Agora levanta dessa cama e vamos sair, vai.
- Eu não, hoje só quero ficar deitada, comendo esse chocolate delicioso e vendo Amelie Poulain. Quer?
- Mas neeeeem morta vou te deixar aqui com essa depressão do mundo todo numa sexta à noite. Vamo, levanta.
- Te odeio, sabia?
- Sabia, mas mesmo assim sempre me liga quando está precisando de alguma coisa, né?
- É?
- É... e a cobrar.


“Não chore, não grite, não fique chateada, não bata pé. 
Pra que fazer tanto barulho? 
Que vá, nunca te pertenceu.”

sábado, 14 de julho de 2012

Vã filosofia.

                        

Aquele velho dilema moral que desgasta, que separa, que cria uma ou outra inimizade.
Aquele que te força a impor tua opinião, que te desafia, que te gera constrangimento. 
Aquele dilema moral que não precisaria existir se as atitudes das pessoas fossem absolutamente éticas, ou se  você ficasse apenas calado diante das coisas absurdas que fazem na tua frente.
Mas não. Compre a briga e faça o que é certo.
Sua consciência agradece.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Eu te quero tanto bem...


E se eu não tivesse o ingresso comprado?
E se você não tivesse comigo falado? 
 E se eu não tivesse, para aquela cidade, viajado? 
E se não tivéssemos, naquela manhã, nos encontrado? 
E se eu não tivesse ali te abraçado? 
E se eu não tivesse o meu número te dado? 
E se, de madrugada, não tivesse me telefonado?
E se outras vezes tivéssemos nos encontrado?
E se a distância não tivesse nos influenciado? 
E se para outras pessoas não tivéssemos olhado?
E se nosso contato tivéssemos acabado?  
E se em tantos momentos não tivéssemos nos apoiado? 
E se as centenas de mensagens não tivéssemos trocado? 
E se, para mais longe, você não tivesse se mudado? 
E se, naquela cidade, você tivesse se estabilizado? 
E se aquele contato você não tivesse pegado? 
E se, para bem perto, você não tivesse sido chamado? 
E se, naquele ônibus, eu não tivesse entrado? 
E se na rodoviária eu não tivesse te encontrado? 
E se durante todo esse tempo não tivéssemos nos separado? 
E se toda a saudade pudéssemos ter matado?
E se nessa cidade você tivesse, enfim, se aquietado?
E se tantos momentos não tivéssemos compartilhado?
E se esse carinho absurdo não tivesse, de fato, aumentado?
E se não tivéssemos, naquela semana, brigado?
E se, para outro lugar, você não tivesse sido chamado?
E se você não tivesse, essa nova proposta, aceitado?
E se você não tivesse a passagem comprado?
E se tivesse, por muito tempo, na minha história continuado?

E se fosse amor,
 você teria ficado?

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bluebird


Em meu coração existe um pássaro que quer sair, 
Mas sou mais forte que ele.
Eu falo "fica aí dentro, eu não vou deixar ninguém te ver." 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas eu taco uísque nele e respiro fumaça de cigarro.
E as putas e os barman e as caixas do mercado
Nunca sabem que ele está aqui dentro. 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas sou mais forte que ele.
Eu falo "fique aí, você quer me pôr em apuros?"
"Você quer estragar meus trabalhos?"
"Você quer estragar as vendas dos meus livros na Europa?" 

Em meu coração existe um pássaro que quer sair,
Mas eu sou mais esperto,
Só deixo ele sair de noite, às vezes,
Quando todos estão dormindo. 

Eu falo "sei que você está aí, então não fique triste",
Daí o ponho de volta.
Mas ele ainda canta um pouco aqui dentro...
Eu não o deixei morrer totalmente. 

E a gente dorme junto desse jeito, com nosso pacto secreto.
E é bacana o suficiente para fazer um homem chorar
Mas eu não choro.
Você chora?


Charles Bukowski

sexta-feira, 22 de junho de 2012

And so it is...

"Porque mulher que fica quieta em uma briga,
já está fazendo a mala."
Carpinejar

"Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu."

Aceite o que é fato: ela vai te deixar. Deixar assim, exatamente como você veio, sozinho. Vai partir e nem sequer vai olhar pra trás. Vai acenar para o vizinho como se fosse um dia qualquer. E você vai ficar aí. Com um abismo dentro do peito e uma tempestade querendo sair de dentro dos olhos. Mas você, teimoso como é, aposto que vai dizer que não está ligando a mínima. Que ela nunca soube dar um adeus de verdade para você e que sempre volta. Some por um tempo, mas volta. Conhece algumas pessoas, mas volta. Que não vai se martirizar tentando dar um jeito nessa relação de vocês. Tudo bem, você diz que não sente falta de companhia. Acha que está tudo bem assim e que não precisa, no momento, ter dor de cabeça com isso. Ótimo. É a sua vida e você faz dela o que quiser. Mas por favor, entenda, você precisa valorizar as pessoas que você tem, não as pessoas que estão, hoje, com você. As que estão, hoje, com você são passageiras. E, de forma distorcida, são as que você mais enaltece, esquecendo que magoa, por vezes, as pessoas que você tem o tempo todo ali, ao seu lado. Já te expliquei que existem erros inevitáveis, mas também existem erros evitáveis que você insiste em não ver. E é aí, meu amigo, que você se perde. Tente, eventualmente, abrir os olhos e ver quem está ao seu lado. Só eventualmente, nem precisa ser o tempo todo. Mas veja. E, ah, não deixe para ver tarde demais. Não deixe para ver quando ela já tiver partido... vocês.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Look what you've done.



Acordou com aquele cheiro gostoso do café, que só a mãe dela sabia adoçar no ponto certo. Levantou com a preguiça diária que parece ser uma constante universal. Espiou a varanda e conferiu que a chuva ainda não havia parado. Escolheu a roupa, tomou um banho, vestiu a meia calça vinho, o vestido preto, colocou as botas preferidas. Fechou o casaco e tomou o delicioso café com alguns pães de queijo. Trancou a porta e se entregou a mais um dia.
Prometeu a si mesma que aquele dia iria ser regado a sorrisos, que não permitiria que ninguém a deixasse para baixo. Prometeu que iria olhar para os outros e sorrir para os outros com esse sorriso que vem da alma. Disse para si mesma, repetidas vezes, que hoje a tristeza não iria chegar perto, apesar da previsão de dia constantemente chuvoso. Hoje seria um bom dia, sim, porque hoje ela entendeu que não merecia guardar para si o sorriso tão sincero que diziam que ela possuía. Resolveu acreditar nos elogios que recebia, nas palavras gratuitas que diziam a ela quando ela não esperava. Ela entendeu o valor que tinha e isso impulsionava para frente. Não tinha vocação para ser triste. Talvez por um dia, mas não mais que dois.
Quando nasceu, sopraram no ouvido dela: "Seja uma pessoa simples e boa, minha filha, e não se permita ser triste." Tomou isso como filosofia de vida. Hoje, ao acordar, ela se prometeu, iria sorrir. 
Iria sorrir.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pra ficar na minha vida.


Vem. Te espero na rodoviária, no aeroporto ou na estação. Desembarca com aquele olho pequeno que não consegue enxergar longe que eu aceno pra você me ver. Aparece com aquele all star e com aquela mochila azul que traz dentro tantas histórias de tantos lugares. Me conta como foi na estrada, se choveu, se você conseguiu dormir. Traz na pele tão branca aquele cheiro de liberdade que só você tem. Me diz que eu preciso aprender a atravessar as ruas e voltar a andar de ônibus, que não dá pra ter trauma de assalto nesse mundo. Me diz que devo começar a usar novos penteados. Implica comigo dizendo que Los Hermanos não presta e que Legião Urbana é coisa de adolescente com problemas. Diz que meu sotaque é bonitinho, mesmo eu discordando sempre. Fala que eu preciso parar com essa mania de achar tudo inseguro. 
Vem. Me conta sobre os seus amigos de Belo Horizonte, Marília, Foz do Iguaçu, São Paulo, Natal. Me deixa por dentro de todas as questões políticas da atualidade. Tira onda do Corinthians e fala que o hino do Santos deveria ser, na verdade, o hino nacional. Diz pra eu nunca usar lente, sempre óculos. Pergunta se eu faço mulherice ao volante, mesmo eu não entendendo o que você quer dizer com isso, só pra me deixar com raiva. Diz que vai tirar a barba amanhã que eu te imploro para você não fazer isso. E você não faz. Me diz que eu sou uma babona e que meu gosto é muito duvidoso. Fala que eu preciso aprender a fazer malas mais compactas e segura o meu braço, fingindo que está tocando violão para o seu sobrinho. Diz que suco de soja é a coisa mais deliciosa do mundo só pra ver a minha cara de que não é mesmo. Me ensina a cozinhar. Me deixa descobrir se você é loiro ou ruivo. Me diz que eu preciso parar de ter medo de falar com as pessoas. Me questiona. Me pede pra eu te convencer. Diz que é pra eu fazer isso ou aquilo sem me deixar dúvida alguma. Fala com firmeza o meu nome.  
Vem. Já estamos acostumados a essas viagens, chegadas e partidas, encontros e desencontros.
Vem. Já sei que não é possível fazer promessa alguma, mas não me afasto de você, nem você se afasta de mim. Talvez por alguns milhares de quilômetros, mas, paradoxalmente, nem por um centímetro. 
Estamos sempre perto... ainda não sei como, mas sei que estamos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

E eu me peço calma.

Só queria dizer que, 
como qualquer ser humano, 
também me canso.
"Escrevo cartas pro mesmo endereço
Chamo o teu santo nome em vão no verso
Amo, reclamo, protesto
Não me calo, grito alto
Tropeço na tua frente
Deixo rastros em tua porta
Jogo pedras em tua vidraça
E você se faz de morto"

segunda-feira, 21 de maio de 2012

In my life.

"All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall"




Momentos que a gente vive que não tem como esquecer... aqueles que ficam como fotografias na memória. E passam dias, passam histórias, passam companhias, mas sempre tem aquela lembrança boa lá atrás.
Lembrança de uma música, lembrança do barulho do mar, lembrança de um cheiro. Cores, sons, sentidos. Aquele frio na barriga, aquela visão linda lá de cima, aquele nevoeiro. Aquela ligação, aquela procura, aquele banquinho na calçada. Aquela fila, aquela companhia. Aquele barulho ensurdecedor. Aquele sonho, tão real. O olhar do meu pai vendo aquele ídolo. A euforia da minha irmã ao ouvir algumas de suas músicas preferidas sendo cantadas ao vivo. Aquela energia boa que contagiava todo um estádio que cantava em uníssono aquelas velhas canções. 

Aquelas velhas canções que lembravam infâncias. 
Aquelas velhas canções que lembravam amores. 
Aquelas velhas canções que lembravam viagens e luais.

Algumas vezes me pego pensando a sorte que eu tenho em ter dias memoráveis como aquele.
Que bom que eu passei esses dias com pessoas tão queridas. 
Sem dúvida, o 22 de maio ficou marcado na minha história.

sábado, 5 de maio de 2012

Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí.


Try to see it my way”

Não sei qual é a dificuldade tão grande que as pessoas têm em entender que nem todo mundo busca a felicidade da mesma forma. Acreditam que existe um padrão ou modelo ideal de felicidade. Ou um caminho corretíssimo para alcançá-la. E que se você sair dele, risque, na sua vida, a chance de ser feliz. Não acredito que seja por aí. Acho que, num mundo onde as pessoas se preocupam tanto com tolices, aprendi cedo demais a relativizar o peso de algumas coisas.
Nunca fui de muitos. Nem de muitos sorrisos, daqueles efusivos e escancarados; nem de muitos amigos, daqueles que me ligam de meia em meia hora chamando pra sair; nem de muitos amores, desses fui apenas de poucos e sinceros. Hoje em dia, onde muitos mendigam goles de companhia, realmente, dá até pra achar que sou infeliz com essas características citadas, né? Mas acontece que não sou. Sou feliz demais. Hoje. Agora.
O que acontece é que estou mudando alguns comportamentos porque, de uns dois anos pra cá, tenho levantado questões a respeito de algumas coisas da minha vida. Não em relação aos meus valores ou princípios, esses tenho moldados e fazem o meu caráter ser como é. Mas algumas verdades e experiências. Alguns comportamentos. Alguns dogmas e preconceitos. Tenho me questionado muito a respeito das pessoas e, principalmente, das relações humanas. E tenho visto que nem tudo é como parece. Mas não é mesmo.
A partir de algumas dessas respostas que encontrei, comecei ver o mundo a partir de uma outra lente. Tenho dado ainda mais valor à simplicidade da vida. Consigo encontrar felicidade nisso facilmente. Tenho visto também a questão de trabalhar mais o presente. Temos tido inúmeras provas de que a felicidade de hoje pode não ser a mesma de amanhã. Tenho trabalhado ainda, e com ajuda dos meus amigos, os meus medos e os meus desafios interiores, isso por si só já tem sido um crescimento absurdo para mim. Fora isso, tenho tentado fazer o bem.
Não tenho vocação nem vontade de ser errada. Modinha adolescente de fazer coisa errada pra socializar também não foi feita pra mim. Sim, tenho tido novas experiências, buscado conhecer e me aproximar de pessoas diferentes, realidades diferentes, modos de vida e contextos diferentes do meu, acho que isso é crescer, não é ser uma pessoa irresponsável. Fora que isso, ultimamente, também tem me deixado muito, muito feliz.
Por mais difícil que seja entender que minha felicidade não está nas maquiagens, nem nas roupas, é mais ou menos por aí que funciona para mim. Gosto de pessoas simples e tenho buscado aprender com elas. Tanto no lado profissional, quanto no lado pessoal. E tenho sido muito feliz na companhia dessas pessoas.
Se é difícil entender isso, infelizmente não posso fazer muita coisa.
Como coloquei em outros textos, enquanto eu tiver esse sorriso na boca, esse brilho nos olhos e essa humildade no meu coração, pretendo seguir por esse caminho. Crescendo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tempo, tempo, mano velho.

O texto que segue trata de uma das muitas cartas que escrevi e não enviei, datada de janeiro de 2008 e encontrada agora, no fundo de uma gaveta de madeira.
Retirei algumas partes por motivos pessoais, mas resolvi colocá-la aqui porque hoje entendi o peso de algo que fica escrito. Ler essa carta me fez relembrar exatamente do momento que eu vivi. Foi como ter um pedaço do tempo congelado, em minhas mãos.



“                  ,
é estranho te escrever algo agora. Na verdade nem sei se vou te mandar isso. Acho que por insegurança mesmo, por ter medo que você não leia e jogue essa carta direto no lixo. Mas enfim, vou continuar escrevendo pra desabafar.
O que eu queria era te pedir desculpa. Sei que está meio cedo, mas queria, de coração. Acho que fui muito covarde ao acabar a nossa história daquela forma. Enquanto você tentava com todas as forças segurar as lágrimas nos olhos, me perguntando por que eu estava fazendo aquilo, eu inventava palavras carinhosas, segurando e beijando a sua mão, na tentativa de abrandar também a minha dor. Agindo dessa forma eu só piorei ainda mais as coisas, né? Hoje eu sei.
Mas o que você fez conosco semana passada também não foi justo. Viajar 120km e aparecer daquela forma na casa da praia, poxa! Me levar pro outro lado da cidade e pedir, olhando nos meus olhos, pra segurar uma última vez a minha mão, nossa, não foi justo comigo.
Eu já sinto muito a sua falta. De verdade. Já sinto falta das tardes de sábado. Sinto falta de jogar dominó na beira da praia. Já sinto falta até de ir pra aqueles shows barulhentos contigo. Você sabe que metal não é meu forte, mas mesmo assim me carregava pros shows contigo.
Falar em show, lembrei daquele último que fomos, que seu amigo quase ficou em coma alcoólico e você ficou umas duas horas com ele no colo. Só deixou ele de lado pra dançarmos Capim Cubano! Hahaha, esse foi um dia memorável.
Tivemos muitos dias memoráveis, né?
Tenho que te agradecer por isso.
Agradecer por ter tido tanta paciência comigo nesses últimos dois anos, principalmente por aturar com tanto bom humor os apelidos mais pitorescos que eu consegui inventar pra você. Agradecer por ter sido tão companheiro e me entender nas minhas ausências. Agradecer pela simplicidade com que você me olhava e agradecer pela sinceridade de sempre.
Éramos muito amigos, antes de qualquer coisa. E conversávamos muito (lembro que minha mãe pedia pra gente parar de falar, as vezes, porque ela não aguentava mais tanta tagarelice). Se tinha uma nuvem no céu, criávamos uma teoria de duas horas pra aquilo. E foi incrível como sempre conseguimos nos entender tão bem.
Mas, sabe, é estranho. Há um mês atrás você sempre tinha todo o tempo do mundo para mim. Mas hoje, hoje tenho vergonha até de te ligar.
Peguei um caminho diferente e nem sei se foi o certo.
Provavelmente não. Tenho dificuldade em aceitar as minhas escolhas.
Mas não tenho mais como voltar atrás. E vou precisar ser forte pra aprender a conviver contigo dentro de mim, mesmo tendo optado (e ainda não sei bem o motivo) por não te ter mais ao meu lado.
Espero que você fique bem.
Queria te pedir pra não ter vergonha de me ligar quando quiser, mas não é justo fazer isso...
Bom, nunca soube terminar carta, você bem sabe disso, então quero só pedir uma coisa: não me esquece, tá?
Enfim, se cuida.
Ah, tou te mandando no envelope a peça mais forte do dominó. Acho que, no fundo, você sempre foi o 6/6 em mim.
Beijos,
Mariana."

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quietude.


Tenho sentido aquela paz em mim. Um sentimento que me preenche. Acho que ser feliz é bem isso, estar em plenitude consigo mesma. Estou bem, muito bem, apesar de tudo e apesar de todos. Uma felicidade calma, uma tranquilidade que me faz sorrir com o cantinho da boca. Não é aquela vontade louca de sair cantando alto pra os quatro cantos do mundo me ouvirem. Não, definitivamente. É aquele toque de alegria que não me deixa ter tempo ruim. Tenho visto beleza na luz e no cheiro do dia. 
Estou serena. E estar assim é bom. Estar assim é muito bom. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Meia noite.


Ele não gostava de ser censurado, estava claro.
Fazia questão de beijar a nuca sempre tão exposta daquela menina de cabelos cacheados.
Era algo bem convidativo.
Naquela noite ele estava ousado.
Discretamente ultrapassou o limite do vestido e tocou o corpo dela, não se importando com o arrepio que provocara em sua pele tão branca.
Ela gostou.
Sabia que não adiantava pedir para ele parar, tiraria toda a graça da Lua, que naquela altura, o observava brincando com o corpo dela.
O céu tinha afastado todas as nuvens para a Lua poder vê-los.
A menina, que tentara andar na linha durante tanto tempo, teve seu corpo balançado pelo impulso ímpar dele.

A Lua ria daquela poesia. 
A menina ria com aquele arrepio.

Sim, o vento brincou com ela a noite toda.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Por trás dos cabelos longos e bigode


"Por trás dos cabelos longos e bigode, ele está olhando para baixo, observando algo fixamente. É surpreendido pela chegada do companheiro, que possui cabelos ainda mais longos que quase escondem os óculos de aro fino.
O recém-chegado senta-se ao lado do amigo, olhando para baixo e apertando os olhos devido à miopia. Após alguns segundos, pergunta:
– Ele já entrou no palco?
– Já. Está tocando há alguns minutos – responde o amigo.
– Onde é?
– No Brasil, acho.
– Está cheio?
– Muito.
O de óculos permanece em silêncio alguns segundos, tentando captar o som que vem de baixo, de longe.
– O que ele está tocando agora? Jet?
– Acho que sim, não dá para ouvir direito por causa da gritaria. Mas acho que é sim.
– Eu gosto desta música.
– Ele está falando com a platéia, mas não consigo entender nada.
– Acho que é português. Não dá para ouvir direito, o público não deixa.
– Com a gente era assim, também. Lembra no Japão? Ninguém ouvia nada.
– Olhe! All My Loving!
Ambos começam a bater as mãos no joelho, de forma quase inconsciente, acompanhando o ritmo da música. “I’ll pretend that I’m kissing…”, o de bigode canta baixinho.
– George! Você ainda se lembra da letra!
– Tem como esquecer? Aposto que você se lembra também.
– Eu me lembro de todas. Todas as músicas. Todos os versos.
– Ele está afinado ainda, não?
– Ele sempre cantou muito bem. Desde menino, ele sempre cantou muito.
Ficam em silêncio mais um pouco, olhando para baixo atentamente.
– Qual é agora? Drive my Car? A platéia esta fazendo barulho demais.
– Drive my Car. Essa é quase toda dele, sabia? Eu apenas ajudei em uns trechos.
– Está no Rubber Soul, né?
– Acho que sim. Sim.
– A platéia está cantando a música inteira.
– Como eles sabem a letra? Eles não eram nem nascidos quando lançamos isso.
– Não sei… Mas eles estão cantando a música inteira, John. Dá para ver daqui.
Permanecem em silêncio por mais algum tempo. O de óculos, mesmo sem perceber, balança a cabeça para os lados discretamente, ao som da música.
– Ele foi para o piano.
– Eu nunca entendi como ele sabia tocar tantos instrumentos. Isso não é normal.

That leads to your door
Will never disappear

– Qual ele está tocando agora? The Long and Winding Road?
– Sim. Veja! As pessoas estão chorando!
Afastando os cabelos do rosto, o míope aperta ainda mais os olhos, vasculhando a multidão.
– Não gosto dessa música – ele diz, mais para si mesmo que para o amigo.
– É linda. Ninguém conseguia fazer baladas como ele.
– Mas não gosto. Nós mal nos falávamos na época.
– Acontece. Acontece com todo mundo, por que não iria acontecer com a gente?
– Verdade.
– Ele está tocando as nossas, olhe. Antes foi And I Love Her. Agora é Blackbird.
– Eu não acredito que as pessoas ainda cantam junto, depois de tantos anos… A letra não está aparecendo no telão? – pergunta o de óculos, abaixando-se ainda mais e tentando ver o palco.
– Não, elas sabem mesmo. Dá para perceber daqui.
– Ele disse meu nome?
– Sim. Você sabe qual ele vai tocar. Ele escreveu para você.

I still remember how it was before,
and I’m holding back the tears no more…

– Você está legal, John?
– Eu e ele perdemos muito tempo. Hoje eu sei disso.
– Eu sei.
– Sabe, George… Se nós soubéssemos que eu teria tão pouco tempo, talvez tivéssemos nos comportado de outra maneira.
– Talvez não. Vocês sempre foram melhores amigos. Ele sabia disso. Ele faz questão de cantar essa, todo show. E ele sabe que você está vendo. Ele não canta para a platéia, ele canta para você. É a forma que ele encontra de matar a saudade um pouco.
– Será?
– Sim. Eu senti muito sua falta antes de nos reencontramos. Olhe as pessoas lá embaixo, estão soluçando. Todos sentem sua falta.
– Eu sinto muito a falta dele. Eu sinto muita saudade da gente. Especialmente do começo. Lembra da Alemanha?
– A gente ainda era menino… Tudo era o máximo, tudo era novidade. Nós éramos novidade.
– Nós ainda somos novidade. Olhe, essa é sua!

You’re asking me, my love will grow?
I don’t know, I don’t know

– Eu me lembro de quando escrevi. Era difícil escrever algo com vocês ali.
– Essa música é linda.
– Olhe! No telão! Ele colocou uma foto minha!
– A gente gostava demais de você. Você era mais novo, víamos você como uma espécie de caçula.
– Eu sei – concorda o de bigode, rindo alto.
Esperam em silêncio a plateia aplaudir. Ao final da música, ambos estão visivelmente emocionados, cada qual com suas lembranças. Os acordes de uma nova canção parecem despertá-los.
– Eu gosto dessa!
– Essa é dele, não é nossa.
– Band on the Run? Mas poderia ser nossa.
– Se dependesse de mim, seria.
– Ah, sim. De todos nós, você sempre foi o mais roqueiro, essa música é a sua cara.
– Ele fez muita coisa boa, né?
– Sim.
Enquanto o de óculos bate os dedos no joelho, o de bigode, sentado de pernas cruzadas transforma sua própria coxa no braço de uma guitarra imaginária. Ambos parecem distantes, talvez pensando não no que foi, mas no que poderia ter sido.

I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade

Enquanto o de bigode tamborila os dedos no ritmo, seu amigo remove os óculos rapidamente. Está chorando.
– Você sempre chora nessa.
– Foi uma das últimas que escrevemos juntos. Mesmo separados. Metade é minha, metade é dele. É estranho, hoje, vê-lo cantando minha parte, e eu aqui.
– Ele não está cantando sozinho.
– Como não?
– Olhe o estádio. É uma voz só, uma voz de sessenta mil pessoas.
– O que são aquelas coisas brancas? Balões de gás?
– Sim.
– Como isso fica bonito, vendo daqui de cima.
– Espere… Give peace a chance? Isso não era da música, certo?
– Não.
– Isso é seu!
– Sim.
– O estádio inteiro está cantando! Olhe os balões de gás! As pessoas estão chorando, se abraçando.
O de óculos resmunga um palavrão, sorrindo. Seus óculos estão embaçados, molhados de saudade.
– Let it be. Essa não poderia faltar.
– Eu não me conformo com isso, com as pessoas ainda saberem as letras inteiras.

But in this ever changing world
in which we live in

– Eu gosto dessa também.
– Uau! Você viu aquilo, John? São fogos?
– Ficou demais, né?
– Nós não tínhamos isso no nosso tempo.
– Nós não precisávamos.
– Mas ele também não precisa. Mesmo assim, ficou lindo.
– O que as pessoas estão cantando, agora? Hey Jude?
– Sim… Estão abraçados, cantando junto com ele.
– É engraçado, George… Eu sei que nós éramos bons… Mas acho que nunca entendi a importância que temos na vida das pessoas, até pouco tempo atrás. Quando eu assisto aos shows dele, e vejo as pessoas cantando junto, chorando… Mexe demais comigo.
– Nós éramos bons, John. Você sabe disso.
– Aparentemente, ainda somos. As pessoas ainda…
– Ainda o quê?
– Sabe, eu estava errado.
– Oi?
– Quando eu disse que o sonho acabou. Eu estava errado.
– Nós três sempre soubemos disso, que você estava errado. Você sempre falou demais. Lembra aquela confusão de sermos maiores que Deus?
– Sim… Mas o sonho… O sonho não acabou nunca. Eu errei.
– John?
– Sim?
– O sonho nunca vai acabar. Não enquanto as pessoas se lembrarem. E elas vão se lembrar para sempre.
Sorrindo, John Lennon levanta-se e oferece a mão a George Harrison.
– Você está com sua guitarra?
– Eu sempre estou com minha guitarra, você sabe.
– Vamos tocar um pouco?
– Qual?
– Qualquer uma. Deu saudade.
Milhões de quilômetros abaixo, Paul McCartney, emocionado, agradece à platéia."

sábado, 14 de abril de 2012

Para Gael


Falarei com minha voz mansa no teu ouvido e, ouvindo minha respiração, dormirás inúmeras noites perto de mim. 
Invadirás cotidianamente meus pensamentos e me farás lembrar do tom da tua voz mais de uma vez por minuto. 
Segurarei na tua mão e te direi que meu amor será teu para sempre. 
E não importa o que aconteça, estarei aqui, pacientemente ao teu lado.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sem norte.

Para ler ouvindo Fix You, do Coldplay.

Algumas vezes, à noite, tenho olhado a cidade em busca de respostas, mesmo sabendo que não vou encontrá-las naquelas pequenas luzes que acendem e apagam em minha frente.
Tenho dormido e acordado, tenho trabalhado e estudado, tenho lido e escrito tantas coisas, tenho pensado nele, tenho pensado em mim.
Tenho sorrido e chorado, tenho experimentado coisas novas e me desapegado de coisas antigas, tenho aprendido e ensinado, tenho conhecido pessoas novas, tenho sentido bastante saudade. Tenho questionado o rumo que algumas coisas tomaram. Tenho questionado porque as coisas estão tão calmas agora. Tenho questionado alguns dos meus sentimentos.

Tenho precisado de respostas para essas minhas questões, mas não tenho encontrado quase nenhuma.
Queria alguém para soprar no meu ouvido o que devo fazer, como fizeram semana passada.
Alguém que me desse um norte. Alguém se segurasse minha mão com segurança e olhando nos meus olhos dissesse: Mariana, Mariana, faz assim, tá?

Mas não tenho isso agora, então continuarei olhando por mais algumas horas essas pequenas estrelas que brilham abaixo do meu horizonte.
Decidi que essa noite, só essa noite, não vou me questionar.

"Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Mas olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender compreendo:
Também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra."

terça-feira, 20 de março de 2012

Como um carnaval.


Tenho pensado em intervalos.
Sabe aquele tempo entre o instante final de uma coisa e o instante inicial outra? Aquele tempo em que você tem impressão que nada acontece, até que a física, e muitas vezes a química e a geografia, te provam o contrário? Então. Tenho pensado nisso com freqüência.
Pensado e visto que a minha vida tem sido espetacular nesses momentos.
Nos momentos em que eu espero por algo, ou por alguém.
Nos momentos de expectativa. Nos instantes anteriores.
Tenho notado que esses minutos, ou mesmo dias, tem sido tão ou mais importantes que o instante em que o que eu tanto espero se concretiza.
Tenho passado dias com esse sorriso bobo no rosto, sorriso de quem espera por algo. De quem espera por uma viagem, de quem espera por um encontro, de quem espera por um telefonema, de quem espera por um abraço que tem dia certo para acontecer.
Sorriso de quem tem data certa para passar uma manhã na praia. Sorriso de quem tem data certa para arrumar uma mala. Sorriso de quem sabe que pode sorrir sem culpa.
São esperas e expectativas saudáveis que tem me preenchido nos últimos dias.
São intervalos, entre um dia e outro, que separam o meu sorriso --------------------------------------------------------- do dele.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sol, girassol.

"E ultimamente, diversas vezes ao dia, venho esboçando um sorrisinho assim..."
É como um sopro, ou como aquela brisa que movimenta os cabelos.
É como deitar numa rede e tomar um vinho sem pressa, olhando as estrelas e ouvindo Clube da Esquina.
É como conversar com uma criança sem dar uma palavra, só olhando nos olhos e vendo o leve sorriso que sai do canto da boca dela quando ela olha para você.
É estar em paz e ser simples.
É ter calma e paciência.
É, sobretudo, ter conhecimento muito.

Conhecimento muito do outro e de você.

Hoje acordei meio sensível, mais que nos outros dias.
Hoje acordei pensando no amor.

domingo, 11 de março de 2012

domingo, 4 de março de 2012

Em breve.

São algumas coisas que não vão fazer sentido agora. Por mais que eu tente entender.

- Não me olha assim, amor.
- Mas você não vai voltar nunca mais?
- Claro que vou! 
- Quando?
- Não sei, mas eu prometo que volto, tá?




Hoje, especialmente hoje, 
quem fez biquinho foi o meu coração.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Receita


Aquele momento em que você precisa de ajuda, olha para os lados e não tem ninguém.
Ai você entende que ninguém vai poder fazer isso por você, então é bom olhar para frente e tentar ver o melhor caminho.
Talvez doa um pouco... talvez seus planos não coincidam com os planos que as pessoas desejam para você.
Mas se você tem convicção do que está buscando, tente não desistir na primeira dificuldade.
Não que os fins justifiquem os meios, e é interessante que se tenha cuidado no caminho que vai seguir, mas as vezes é bom dar créditos e confiar no seu coração.
E nesta busca, lembre-se de adicionar grandes doses de humildade, paciência e respeito a si próprio.
Deixe quinze porcento por conta do destino.
E lembre-se de sorrir.

Lembre-se de sorrir.