domingo, 29 de janeiro de 2012

Essa minha geração Barbie


Mesmo reprovada freqüentemente pelos olhares femininos da minha irmã, sempre preferi meu confortável all star branco e sujo a uma sandália que trás de brinde dois band-aids porque ela vai apertar seu o pé quando você der sete passos, mas que é linda.
Nunca gostei de esmaltes chamativos e muito menos de unhas grandes, gosto de sentir a ponta dos meus dedos sem precisar me preocupar se ao tocar naquilo corro o risco de quebrar alguma unha e ficar de cara fechada o resto do dia.
Nunca quis ter cabelo liso, apesar de ter sido tentada pelos oito melhores cabeleireiros da cidade a ter o cabelo como todo mundo tem, “porque é mais bonito”. Qual a graça mesmo em ser igual a todo mundo?
Sempre preferi escutar a falar, mesmo tendo sido muito mal interpretada por isso na maioria dos casos... não, não estou analisando ninguém, só acho que o mundo carece de pessoas que escutam verdadeiramente umas as outras.
Nunca gostei de salto alto nem de gente chique demais, prefiro lugares alternativos onde todo mundo se veste como quer sem se preocupar com o julgamento dos outros em relação a sua roupa. Por falar em roupa, nunca segui a moda, acho que sempre soube me vestir muito bem no estilo Mariana.
Vou morrer sem entender porque as mulheres usam tanta maquiagem se a verdadeira beleza está na naturalidade, e apesar de 100% delas usar esse discurso, quase nenhuma aprendeu a usar verdadeiramente essa naturalidade no dia a dia.

Acho que o que falta nas pessoas é autenticidade, essa coisa de ter um estilo próprio, essa coisa de ser menos influenciada pelo que os outros querem que você seja. Você não precisa ter aquele vestido de 700 reais pra ser bonita, nem aquela sandália de doze centímetros de altura para chamar atenção. O brilho dos seus olhos é mais visível quando não tem quatro camadas de rímel encobrindo-o e você pode andar com mais elegância quando não está vestindo aquela minissaia apertada que está na moda. Seu cabelo passa a ser lindo quando você passa a gostar dele e o julgamento dos outros, bom, aprendi que sempre vai existir. Mas acho que o que falta mesmo é o silêncio nas pessoas. Quando você se cala e pensa, você se escuta. Ai você passa a ser menos Vogue e passa a ser mais você.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ontem

Finalmente se reencontraram.
Depois de longos cinco anos, eis que eles, finalmente, puderam ficar frente a frente mais uma vez.
No restaurante, a pequena mesa de canto havia sido reservada por ele no final daquela tarde, após ligar para ela e avisar que, agora, iria morar naquela cidade.
Em cima da mesa um vinho, duas taças, duas velas e quatro mãos que matavam a enorme saudade.

- Promete que nunca mais vai sair da minha vida?
- Prometo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ao meu pequeno rouxinol

Quero que saibas que senti muito a tua falta.
Falta das vezes que conversei contigo.
Falta das vezes que você me ouviu sem eu nem ter falado.
Falta das vezes que consegui te identificar, em meio aos outros, sem nem estar te vendo.
Senti falta da tua alegria incompreendida e do teu olhar de carinho quando me olhavas.
Senti falta até mesmo do teu silêncio na última vez que fui para a casa de paredes amarelas.

"Teu som, enfim, se apagaria em meu ouvido 
Para o teu réquiem transmudado em outra relva amena."

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Oi Grupo!

As vezes que ficamos nos segurando em um poste na orla para não sermos levadas por uma multidão que saía de um show na praia;
As vezes que pagamos 50 centavos para usar um banheiro sem divisória e sem janela, morrendo de nojo de pisar naquela água e se acabando de rir da situação;
As vezes que cantamos as músicas de Frejat abraçadas numa chuva que não acabava mais;
As vezes que improvisamos um frevo no reveillon para sentirmos o clima de um carnaval que estava por vir;
As vezes que encontramos o quarteto fantástico no São João mas ficamos com vergonha de ir lá;
As vezes que saímos ensopadas de um show, cantando Beatles de madrugada e com medo de sermos sequestradas pela van preta que parou ao nosso lado;
As vezes que pulamos tanto na sequência mais fantástica de todos os fests e pensamos que não conseguiríamos andar por uns três dias;
As vezes que precisamos beber vinho tinto com gelo e adoçante para nos enturmarmos com o pessoal de uma excursão;
As vezes que comemos batatinha frita com """orégano""" com um nojo absurdo e chorando de rir;
As vezes que fomos leve o suficiente para tirarmos onda de qualquer situação que aparecesse por perto.

Momentos que foram vividos tão intensamente por a gente que é difícil lembrar deles e não sorrir.
Espero que nesse ano saibamos viver ainda mais essas situações tão peculiares da nossa divertida amizade.

November Rain



- E se ele tivesse aqui, como seria?
- Eu não sei.
- Me diz, se ele te ligasse agora e falasse: "Olha, estou em João Pessoa", o que você faria?
- De verdade?
- Sim, de verdade!
-
- Ok.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A lendária casa laranja.


Quantas vezes brincamos de coelho-sai-da-toca às 20h na praia, quantas vezes pegamos as sete, oito, nove bicicletas embaixo da escada e saímos correndo para o campinho de futebol, quantas vezes brincamos no pomar, no clube do cupido, ou pegamos trico-trico e fizemos nossas comidinhas...
Quantas vezes vovó disse que não podíamos destruir as plantinhas dela?

Quantos beijos e abraços nos demos quando acordamos ou quando cruzamos uns com os outros naquela escada, quantos gritos nós demos com medo das rãs, quantas músicas ouvimos, deitados naquela varanda, esperando à hora de tomar banho?
E quantas vezes tomamos banho naquele chuveirão?

Quantos bolos foram feitos e quantas coberturas de chocolate foram roubadas com o dedo, quantos churrascos fizemos para os amigos, quantos CDs tocaram no carro de vovô, quantas dezenas de jogos de poker foram realizados naquele terraço?
Quantos namorados passaram por aquele terraço?

Quantas máscaras de carnaval foram coladas naquelas paredes, quantas havaianas foram lavadas com aquela mangueira, quantas castanholas caíram em cima daqueles carros e quantas vezes os varais foram recolhidos as pressas por causa das chuvas?
Quantas vezes tomamos maravilhosos banhos de chuva naquele jardim?

Às vezes me pego pensando, deitada naquela varanda, a sorte temos em nos termos. Se as lágrimas nos acompanham nas estradas todas as vezes que saímos daquela casa, é sinal de que sempre vivemos momentos felizes ali.
Nunca achei justo o fato de tantas vezes construirmos 
castelos de areia na praia e no outro dia eles não estarem mais lá. 
Mas talvez hoje eu tenha entendido 
onde sempre esteve o verdadeiro castelo de areia. 
E é aquele que a gente nunca deseja sair de dentro. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Casa do Mirante


Vitamina de banana com maçã. Uma babá que me dava um beijo todas as manhãs. Um pé de acerola e um de maracujá no quintal. Um baú com todos os brinquedos pequenos. Borboletas amarelas, muitas borboletas amarelas. O cheiro da minha lancheira do colégio. Os nossos patins. O disco de vinil da Turma da Mônica. A caixa de ferramentas do meu pai trancada no depósito. As doze queimaduras de lagartas de fogo. O nosso pastor alemão correndo no terreno. O vídeo game das férias. O buraco no mosquiteiro para segurar a mão da minha irmã quando íamos dormir. As festas de aniversário no terraço. O guarda roupa velho que fazia barulho. A piscina dos finais de semana. O canil com os dez filhotes da nossa poodle. O vigia noturno sentado no quintal. As gincanas de obstáculos que montávamos na sala do meio. Os chicletes grudados na parte de trás das cadeiras. Acordar aos domingos ouvindo o disco dos Beatles do meu pai. O skate colorido do meu irmão. As férias com as primas de Recife. O carro amarelo para os passeios do final de semana. O braço quentinho da minha mãe, que me segurava na calçada olhando o movimento da rua no final da tarde.
É injusto saber que não posso voltar para o lugar que guarda, entre suas paredes, a minha infância.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Especialmente hoje.



Desde pequena fui freqüentadora assídua dos parques que vinham para minha cidade. Era como um ritual. Parque de diversão e circo sempre estiveram presentes nos nossos fevereiros e outubros.  Meu pai era o encarregado dessa tarefa. Sempre saía comigo e com meus irmãos para vermos um pouco do colorido e da magia que essas atividades abrigavam. Lembro de um dia em especial: o primeiro dia que fui sozinha em um dos brinquedos.
Eu tinha uns dez anos, tinha viajado com meu pai para a cidade dele, em Pernambuco, a umas quatro horas de distância. (Meu pai ainda hoje odeia o fato de eu medir a distância com tempo, diga-se de passagem. “Pai, são quantas horas de viagem?” “São 270km. O tempo vai depender da minha velocidade, Mari”). Mas voltando. Havia um parque na praça perto da casa que estávamos. Nem precisei pedir muito para irmos, ele sempre gostou de parques também.  Depois de irmos a quase todos os brinquedos, encontrei um que achei o máximo! Entramos na fila. Quando chegamos perto, meu pai falou:
- Olha, você vai ter que ir sozinha nesse, tenho problema cardíaco e tem naquela plaquinha que eu não posso ir nesse brinquedo.
Falou apontando para uma placa onde, obviamente, não tinha o nome dele.
- Cadê seu nome nessa placa?
- Não tem meu nome, Mari! Aqui diz que pessoas com problemas cardíacos não podem usar este brinquedo. Vai lá, é sua vez.
Como assim? Eu nunca fui sozinha em brinquedo nenhum! Não sabia nem onde sentar, todas as cabines eram para duas pessoas, não para uma só. O problema é que não pude nem pensar, simplesmente fui. Fui e fiquei olhando ele lá embaixo. Fui e não achei a menor graça. Simulei até um ataque cardíaco em uma das voltas, mas ninguém veio me socorrer.
O engraçado de tudo isso é hoje entender que, mesmo apavorada com o fato de estar sozinha, algumas vezes mudar a rotina é absolutamente necessário para que a gente descole de um passado e possa seguir em frente. Obviamente questionei o meu pai o fato dele não ter parado e brinquedo pra me socorrer do “ataque” que eu estava tendo. Ele disse:
- Você não estava tendo nenhum ataque, Mariana. Você só estava com medo. Até agradeço a solidariedade, mas sabe de uma coisa? Foi bom você ter ido sozinha... No futuro você vai me entender.
Acho que hoje, especialmente hoje, eu o entendo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

And in the end...


Na verdade é bem isso que tem norteado a minha vida de uns dois anos para cá.
Ás vezes me pego pensando que a vida é como uma equação. Não aquelas que a gente aprende no colégio, cheias de x, y, w e z. Mas uma equação que não tem um =, se é que isso é possível.
Uma equação onde você deve se doar sem esperar muita coisa em troca. Uma equação em que você seja uma adição para o outro, independente de quem seja essa outra pessoa.
Depois de ter escutado essa última frase na "última" música do último disco dos Beatles, resolvi tomá-la como filosofia de vida. Obviamente não sei quão grande vai ser o amor que vou receber no meu final, mas na verdade isso não me importa. Fazendo o que tenho feito já tenho recebido muito amor até agora.