quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Especialmente hoje.



Desde pequena fui freqüentadora assídua dos parques que vinham para minha cidade. Era como um ritual. Parque de diversão e circo sempre estiveram presentes nos nossos fevereiros e outubros.  Meu pai era o encarregado dessa tarefa. Sempre saía comigo e com meus irmãos para vermos um pouco do colorido e da magia que essas atividades abrigavam. Lembro de um dia em especial: o primeiro dia que fui sozinha em um dos brinquedos.
Eu tinha uns dez anos, tinha viajado com meu pai para a cidade dele, em Pernambuco, a umas quatro horas de distância. (Meu pai ainda hoje odeia o fato de eu medir a distância com tempo, diga-se de passagem. “Pai, são quantas horas de viagem?” “São 270km. O tempo vai depender da minha velocidade, Mari”). Mas voltando. Havia um parque na praça perto da casa que estávamos. Nem precisei pedir muito para irmos, ele sempre gostou de parques também.  Depois de irmos a quase todos os brinquedos, encontrei um que achei o máximo! Entramos na fila. Quando chegamos perto, meu pai falou:
- Olha, você vai ter que ir sozinha nesse, tenho problema cardíaco e tem naquela plaquinha que eu não posso ir nesse brinquedo.
Falou apontando para uma placa onde, obviamente, não tinha o nome dele.
- Cadê seu nome nessa placa?
- Não tem meu nome, Mari! Aqui diz que pessoas com problemas cardíacos não podem usar este brinquedo. Vai lá, é sua vez.
Como assim? Eu nunca fui sozinha em brinquedo nenhum! Não sabia nem onde sentar, todas as cabines eram para duas pessoas, não para uma só. O problema é que não pude nem pensar, simplesmente fui. Fui e fiquei olhando ele lá embaixo. Fui e não achei a menor graça. Simulei até um ataque cardíaco em uma das voltas, mas ninguém veio me socorrer.
O engraçado de tudo isso é hoje entender que, mesmo apavorada com o fato de estar sozinha, algumas vezes mudar a rotina é absolutamente necessário para que a gente descole de um passado e possa seguir em frente. Obviamente questionei o meu pai o fato dele não ter parado e brinquedo pra me socorrer do “ataque” que eu estava tendo. Ele disse:
- Você não estava tendo nenhum ataque, Mariana. Você só estava com medo. Até agradeço a solidariedade, mas sabe de uma coisa? Foi bom você ter ido sozinha... No futuro você vai me entender.
Acho que hoje, especialmente hoje, eu o entendo.

Um comentário:

  1. adoramos as perguntas típicas de criança heheheh e o "Como assim?" é tua cara =P

    bom sabermos mais um pouco da sua vida, ainda mais quando vemos que há mais um pouco dela nas entrelinhas desse texto... ;x o/ o/

    beijos!
    Kalina e Savanna

    ResponderExcluir