terça-feira, 12 de junho de 2012

Pra ficar na minha vida.


Vem. Te espero na rodoviária, no aeroporto ou na estação. Desembarca com aquele olho pequeno que não consegue enxergar longe que eu aceno pra você me ver. Aparece com aquele all star e com aquela mochila azul que traz dentro tantas histórias de tantos lugares. Me conta como foi na estrada, se choveu, se você conseguiu dormir. Traz na pele tão branca aquele cheiro de liberdade que só você tem. Me diz que eu preciso aprender a atravessar as ruas e voltar a andar de ônibus, que não dá pra ter trauma de assalto nesse mundo. Me diz que devo começar a usar novos penteados. Implica comigo dizendo que Los Hermanos não presta e que Legião Urbana é coisa de adolescente com problemas. Diz que meu sotaque é bonitinho, mesmo eu discordando sempre. Fala que eu preciso parar com essa mania de achar tudo inseguro. 
Vem. Me conta sobre os seus amigos de Belo Horizonte, Marília, Foz do Iguaçu, São Paulo, Natal. Me deixa por dentro de todas as questões políticas da atualidade. Tira onda do Corinthians e fala que o hino do Santos deveria ser, na verdade, o hino nacional. Diz pra eu nunca usar lente, sempre óculos. Pergunta se eu faço mulherice ao volante, mesmo eu não entendendo o que você quer dizer com isso, só pra me deixar com raiva. Diz que vai tirar a barba amanhã que eu te imploro para você não fazer isso. E você não faz. Me diz que eu sou uma babona e que meu gosto é muito duvidoso. Fala que eu preciso aprender a fazer malas mais compactas e segura o meu braço, fingindo que está tocando violão para o seu sobrinho. Diz que suco de soja é a coisa mais deliciosa do mundo só pra ver a minha cara de que não é mesmo. Me ensina a cozinhar. Me deixa descobrir se você é loiro ou ruivo. Me diz que eu preciso parar de ter medo de falar com as pessoas. Me questiona. Me pede pra eu te convencer. Diz que é pra eu fazer isso ou aquilo sem me deixar dúvida alguma. Fala com firmeza o meu nome.  
Vem. Já estamos acostumados a essas viagens, chegadas e partidas, encontros e desencontros.
Vem. Já sei que não é possível fazer promessa alguma, mas não me afasto de você, nem você se afasta de mim. Talvez por alguns milhares de quilômetros, mas, paradoxalmente, nem por um centímetro. 
Estamos sempre perto... ainda não sei como, mas sei que estamos.

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